Depois de ter publicado cinco livros de poemas (Dez, 1996; Hong Kong & outros poemas, 1999; Rio Silêncio, 2002; A sombra da ausência, 2010; e A outra voz, 2018), Antônio Moura nos oferece, agora, A guerra invisível, uma antologia pessoal de sua trajetória, montada retroativamente, começando com poemas de seu último livro e terminando com o primeiro.
Uma das coisas que impressionam nesse caminho de revisão e doação poéticas é o fato de haver uma precisão não contida, sem encolhimento ou retração, uma precisão em expansão. Havendo uma medida justa tanto em poemas mais econômicos quanto nos mais alongados, inclusive, nos poemas que beiram a prosa ou chegam até ela, nenhuma palavra sobra nem falta. Há um pensamento rigoroso na composição de cada verso e de cada linha, que leva ao extremo o que, a cada momento, está sendo dito. Um certo tom clássico é invadido por lundus, rufares de tambores e macumbas, pela exuberância de um africanismo amazônico em forte encontro com a tradição europeia.
Nesse poeta paraense, quero dizer amazônida-universal, as indiscernibilidades entre poesia, política e natureza ou cosmos nos conduzem dos pesadelos infindáveis das barbáries aos sonhos dos que querem acordar em “uma casa iluminada por vagalumes”. Com alta voltagem contrastante, as imagens se colocam em tensão extrema com aqueles de quem o poema quer, de fato, falar.
Seja, portanto, com os refugiados, os exilados, os que estão em estado de prisão, os que estão submetidos ao fascismo, os animais, a floresta ardendo em fogo, os terrorismos de Estado, os fundamentalismos religiosos, os totalitarismos etc., esta é uma poesia em que a palavra e a frase ganham o estatuto de vozes, berros e urros, enquanto esses, retumbantes, são ditos por murmúrios, rumores e marulhos. Façamos, por exemplo, a experiência de ler “Onipresença Onipotência” sobreposto a “Ouve o mundo”.
Que A guerra invisível seja uma oportunidade de se ampliar consistente e consideravelmente por todo o país a leitura de Antônio Moura, esse poeta em excelência de saberes e fazeres.